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quinta-feira, 28 de julho de 2011

“Mulheres na sala de aula” de Guacira Lopes Louro

Oi pessoal, tudo bem!?
Como eu havia mencionado na postagem anterior aqui está o assunto da avaliação e a parte escrita que entregamos...
Boa leitura!!!
 
imagem da internet foto da professora Guacira Lopes Louro.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: TEORIA SOCIAL, EDUCAÇÃO E RELAÇÕES DE GÊNERO
AVALIAÇÃO-2011/2
PROFESSORA: MÁRCIA ONDINA VIEIRA FERREIRA


Roteiro de exploração do texto: “Mulheres na sala de aula” da Guacira Lopes Louro


Carla Juliana Formulo Dhein
Ana Cristina Marques Silveira 

Pelotas/2011

Roteiro de exploração do texto:
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
O texto da Guacira Lopes Louro trata sobre a feminização do magistério e as imagens de professoras que foram sendo construídas e construtoras de identidades durante a história brasileira.

11.  PERGUNTA: As mulheres tinham tratamentos diferentes na escola? Qual o objetivo?

RESPOSTA: As meninas tinham na escola disciplinas como bordado e costura e os meninos noções de geometria. As mulheres não precisavam saber muitas coisas, por que o destino delas era ser “rainha do lar”, a qual precisava manter a casa limpa, educar os/as filhos/as, cozinhar, lavar, entre outros serviços domésticos, no máximo, seriam “mestras”, enquanto os homens iriam seguir carreiras bem remuneradas.

2. PERGUNTA: Como classe, etnia e raça influenciavam na vida das mulheres nessa época?

RESPOSTA: Segundo a autoraSeria uma simplificação grosseira compreender a educação das meninas e dos meninos como processos únicos, de algum modo universais dentro daquela sociedade” (LOURO, 2008, p.444). As divisões de classe, etnia e raça eram determinantes nas formas de educação utilizadas para transformar as crianças em mulheres e homens. Juntamente com essas divisões havia as divisões religiosas, que também implicariam diversidades nas proposições educacionais. Para os escravos e filhos destes a educação era totalmente negada.

Com o passar do tempo algumas leis foram afrouxando esses “laços do escravismo”, porém, trazendo poucas mudanças em relação a educação dos negros. Raros casos são registrados da entrada de algumas crianças negras em entidades filantrópicas, o que só acontece no final do século. A mesma situação acontecia com os descendentes de indígenas que mantinham a sua educação ligada às práticas de seus próprios grupos de origem, não havia presença destes em escolas públicas. Da mesma forma, os imigrantes “trabalhadores livres” vindos da Alemanha, Itália, Japão, entre outros. Estes tinham a educação, muitas vezes, com auxílio de suas regiões de origem. As meninas órfãs “aprendiam a ler, a escrever, aritmética, costura, cozinha e todos os ramos úteis de trabalho cotidiano” (LOURO, 2008, p. 446) e ficavam expostas aos homens que ali procuravam por futuras esposas. Para as filhas de grupos sociais privilegiados, havia o ensino da leitura, da escrita e das noções básicas da matemática e, além disso, aprendiam piano e francês que, na maior parte dos casos, era ministrado em suas próprias casas por professoras particulares, ou em escolas religiosas.

Elas também aprendiam habilidades domésticas como as outras, além de aprenderem também habilidades de mando das criadas e serviçais, “acrescida de elementos que pudessem torná-las não apenas uma companhia mais agradável ao marido, mas também uma mulher capaz de bem representá-la socialmente.” (LOURO, 2008, p. 446)

3.      PERGUNTA: Segundo a autora (LOURO, 2008, p. 446) havia na época muitos discursos que afirmavam que “mulheres devem ser mais educadas do que instruídas”. Baseada em que a autora afirma isso?

RESPOSTA: A formação da mulher deveria ser moral de forma a construir seu caráter, o que deixava de lado outros tipos de instrução. A função primordial da mulher era ser esposa e mãe e, para isto, precisava apenas uma moral sólida e bons princípios. A única educação dada às mulheres dizia respeito à educação dos filhos, já que esta preparava as novas gerações para construir o futuro do país. Segundo discursos da época, o homem ser do bem ou ser do mal dependia da educação que recebeu da mãe. As mulheres-mães deviam seguir a imagem da Virgem Maria, devido ao catolicismo, nas palavras da autora: “esse ideal feminino implicava o recato e o pudor, a busca constante de uma perfeição moral, a aceitação de sacrifícios, a ação educadora dos filhos e filhas.” (LOURO, 2008, p. 447).

Outros discursos fundamentados em idéias positivistas e cientificistas justificavam um ensino para a mulher que continuasse ligada à função materna, mas que incorporasse as “descobertas” da ciência e assim, na virada do século novas disciplinas como a puericultura, psicologia ou economia doméstica viesse a integrar o currículo dos cursos femininos juntando antigos conceitos com nonos fundamentos científicos.

4.PERGUNTA: O que significa “feminização do magistério”? Em que consistiu esse processo?

RESPOSTA: devido a mudanças sociais, iniciou uma “necessidade” de escolarizar a população e, para isto, precisava-se de mestres com boa formação. As Escolas Normais abriram vagas para homens, mas como não tinham suficientes, as mulheres começaram a entrar em maior número para torna-se mestres. Segundo a autora:
“os homens estavam abandonando as salas de aula. Esse movimento da origem a uma "feminização do magistério" - também observado em outros países -, fato provavelmente vinculado ao processo de urbanização e industrialização que ampliava as oportunidades de trabalho para os homens. (LOURO, 2008, p. 450)

Contudo, esse processo não se deu de forma passiva e sem críticas e resistência. Para alguns, entregar a educação das crianças às mulheres era uma completa insensatez, sendo discursos da época (e atuais também) afirmavam que as mulheres possuíam cérebros menos desenvolvidos e não tinham condições de dar conta de uma responsabilidade tão grandiosa. Outras “vozes” diziam que as mulheres eram “naturalmente” preparadas para o trato com as crianças. Dessa forma, o magistério significava a extensão da maternidade e os alunos representavam seus “filhos e filhas espirituais” (LOURO, 2008, p. 450), os quais seriam tratados por elas com amor e doação.

Para este trabalho seriam chamadas aquelas que tivessem vocação para tal. Ao mesmo tempo em que esse argumento justificava a saída dos homens das salas de aulas, as mulheres viam nisso a oportunidade de “ampliar seu universo-, restrito ao lar e a igreja” (LOURO, 2008, p. 450). A partir de então, o magistério passa a ser associado com características “tipicamente” femininas. Características estas que, articuladas com a tradição religiosa da profissão docente reforça a idéia de docência mais como um sacerdócio do que como uma profissão.

O processo de feminização, de acordo com a autora, também “pode ser compreendido como resultante de uma maior intervenção e controle do Estado sobre a docência - a determinação de conteúdos e níveis de ensino, a exigência de credenciais dos mestres, horários, livros e salários -, ou como um processo paralelo, à perda de autonomia que passam a sofrer as novas agentes do ensino” (LOURO, 2008, p. 451/452). Mas não dá para fazer uma ligação simplificada entre feminização e perda da autonomia, é preciso levar em conta vários outros fatores que têm relação com este fato.

5.PERGUNTA:  Quais os múltiplos recursos e dispositivos que foram lançados acerca das professoras para que se pudesse controlá-las?

RESPOSTA: Nas palavras da autora, “através de proibições, de arranjos arquitetônicos, da distribuição dos sujeitos, dos símbolos, das normas” (LOURO, 2008, p. 454). Por exemplo, as normalistas tinham que completar 23 anos para receber em sua sala de aula meninos de até 10 anos para preservar a sexualidade dos alunos e das professoras. Outra forma de controlar as professoras foi tomar a profissão docente como transitória, pois se apresentava como um risco a sua verdadeira missão de mãe, esposa e dona de casa. Sendo assim, a profissão de professora era aceita até o casamento, ou somente para solteiras e viúvas. Desta forma o salário não precisava ser alto, pois quem era mantenedor da família era o homem e o trabalho era somente de meio turno para não afetar as atividades domésticas que lhes eram peculiares.

6. PERGUNTA: Uma massa feminina inseriu-se em profissões ligadas ao cuidado como a enfermagem e o magistério. Estas profissões foram escolhidas ou foram determinadas como sendo ideal para as mulheres?

RESPOSTA: Como podemos notar, essas profissões assemelham à vida doméstica e são pensadas como uma extensão do lar considerado-as como aceitável de conciliação entre a vida pública e privada da mulher enquanto esta não casa ou para as mulheres solteiras e viúvas.

7. PERGUNTA: As Escolas normais feminizam-se. Quais os dispositivos que este espaço dispõe para produzir normalistas e professoras?

RESPOSTA: A formação docente feminiza-se e, com isso, “a instituição e a sociedade utilizam múltiplos dispositivos e símbolos para ensinar-lhes sua missão, desenhar-lhes um perfil próprio, confiar-lhes uma tarefa” (LOURO, 2008, p. 455) Os arranjos físicos modificam-se e instituem, “em sua materialidade, um sistema de valores, como ordem, disciplina e vigilância" (LOURO, 2008, p. 455). Bandeiras, crucifixos, quadros com personagens ilustres que afiram valores, mostram o caminho a ser seguido por quem ali está. Fala e constrói esses sujeitos. O cotidiano das jovens dentro deste espaço é controlado, regulado e regulador, elas precisavam aprender dentro do espaço regulador que é a escola. Além disso, os cursos normais ofereciam disciplinas diferentes a homens e mulheres.

Aos homens, disciplinas como aritmética e para as mulheres, trabalhos de agulhas e prendas, essas disciplinas “falavam aos sujeitos” as suas habilidades e os espaços que podiam ocupar segundo o seu sexo. No início do século disciplinas como a psicologia, a puericultura e a higiene escolar começaram a fazer parte dos currículos das Escolas Normais, pois, nesse momento a sociedade sofre transformações que colocam a criança como centro das novas descobertas como sujeitos que precisam aprender a se autogovernar desde pequenos. Nesse sentido de descobertas, a afetividade é tida como facilitador de aprendizagem e isso é importante para a escola e para a casa, ou seja, para a professora e para a mãe. Este fato incentivou mais ainda a entrada de mulheres no magistério, pois, as preparava para serem mestras, mas também para serem esposas e donas de casa.

Outro dispositivo que acabava produzindo um jeito de ser professora eram as primeiras diretoras e tomar posse do cargo maior da escola normal: a grande mestre! Esta era vista como uma mãe superiora que zelava por tudo e por todas e devia de ser um modelo a ser seguido por estar rompendo com a as expectativas mais tradicionais, o que causava a admiração e o desejo de muitas alunas.
A partir disso começaram a surgir regulamentos, premiações, “notas de aplicação” para “cercear” o comportamento das professoras para que não desviasse o seu próprio comportamento, assim como também, o comportamento de seus alunos.

Estas não podiam falar de assuntos que não fossem de aula, muito menos sobre a vida pessoal, precisavam vestir-se de modo com que escondiam corpos das professoras que deviam de ser assexuadas, manter uma postura digna e discreta. Segundo a autora “todo um investimento político era realizado sobre os corpos das estudantes e mestras. Através de múltipios dispositivos e práticas ia-se criando um jeito de professora.” (LOURO, 2008, p. 461) Outro dispositivo que era usado para fabricar o modo de ser professora era a exigência de um atestado do pároco respectivo que prova(sse) sua conduta moral e religiosa”. Esse tipo de exigência certamente é eloqüente para demonstrar o quanto se identificavam moral e bons costumes com religião católica. As professoras precisavam ser um exemplo de dignidade comparado com a Virgem Maria.

8. PERGUNTA: Quais são as imagens apresentadas pela autora no capítulo “jogo das representações” que, com o decorrer dos anos, representaram o jeito de ser professora? Quem as representava?

RESPOSTA: A autora apresenta no capítulo representações feitas sobre elas por “homens-parlamentares, clérigos, pais, legisladores, médicos – auto-arrogando-se a função de porta-vozes da sociedade, dizem sobre elas.” (LOURO, 2008, p. 465) Como conseqüência, essas imagens acabam sendo absorvidas e corporificadas pelas próprias professoras.
No final do século XIX a imagem de professora era associada a mulher feia e retraída que não tinha chance de casar, então, para aproximar-se da maternidade sem gestar tinham a opção de ser mãe espiritual de seus alunos. A “oração da professora” de Gabriela de Mistral, apresentada no texto mostra claramente essa missão das professoras de serem mães espirituais de seus alunos quando afirma “ “Dai-me o amor único de minha escola (...)“Dai-me ser mais mãe que as mães, para poder amar e defender como elas o que não é carne de minha carne. (...). Segundo Louro “ela expressa com muita ênfase esse processo, que poderia representar, para algumas mulheres, “a única forma de dar à luz”. (2008, p. 465) para as jovens que precisavam trabalhar havia uma escolha a ser feita: ser professora ou casar.

Os discursos da época diziam que era impossível conciliar os dois, pois a mulher precisava desempenhar serviços domésticos e familiares em casa ao mesmo tempo em que este trabalho era visto como um desviante para as mulheres pois lhes era possível um nível maior de instrução e uma maior liberdade pessoal e financeira. A professora solteirona era representada por fotos ou caricaturas de mulheres parecidas com bruxas, com roupas que escondiam o máximo possível o corpo, nenhum atrativo físico, cabelos amarrados ou curtos, poucos sorrisos, óculos. A mulher-professora era vista com um ser frágil, mas precisava disciplinar-se e esconder isso, para poder disciplinar os seus alunos e alunas. O contato físico com os alunos era vedado.
Com o surgimento de novas descobertas psicopedagógicas o afeto passou a ser valorizado e a escola precisava ser um espaço prazeroso. A partir dessa concepção a professora passou a ser mais sorridente e mais próxima dos alunos e alunas, mas o contato físico permaneceu cheio de reservas. A sexualidade das professoras ocupava o imaginário das pessoas por que era cheio de segredos e ninguém sabia nada a respeito. Contratos de professora nessa época proibiam as docentes de casar enquanto fossem professoras, para não ter risco de os alunos ficarem imaginando sobre sua vida sexual e afetiva. Outro risco da professora casada era a gravidez, que era cercada de censuras e poderia gerar indagações dos alunos a respeito.
Com o passar dos anos as representações foram modificando-se. No final dos anos 30 uma canção de Silvio Caldas intitulado “professora” retrata a imagem de professora com um papel de desejo amoroso. Assim como a mulher tinha um papel de operária divina, regeneradora para com os filhos e a família, assim também deveria ter com um boêmio que vivia na noite por culpa dela.  

Nas primeiras décadas deste século as professoras eram chamadas de professorinhas e normalistas. Esta denominação era dirigida às normalistas recém formadas , que segundo as novas teorias deveriam ser menos severas e mais sorridentes. A música popular “normalista” de Nelson Gonçalves retratava essa professorinha como o posto mais alto que uma mulher podia chegar o que as tornava distintas levando a ser, para muitas, um curso de espera marido.
Com a ditadura militar no Brasil, o trabalho docente passou a ser mais controlado e burocrático. A nova orientação para o campo educativo deu maior ênfase ao profissionalismo para a atividade docente e menos ênfase para o afeto, a espontaneidade e para as relações informais. Como haviam resistências de muitas professoras e este modelo, algumas subvertiam as regras dos órgãos administrativos e educacionais e começaram a denominar-se tias ao invés de professoras para manter um caráter afetivo e favorecer o anonimato das professoras. Porém passou a ter nas escolas especialistas e estas tias passaram a ser vistas como alguém que não precisava de preparo nenhum para ser tia.

Com a proletarização docente, as professoras passaram a ter condições de trabalho e salários (que tradicionalmente já eram baixos) semelhantes a trabalhadores fabris. Assim como estes trabalhadores, as professoras passaram a lutar como eles por melhorias através da criação de sindicatos e manifestações públicas de impacto social. Estes, então, passam a ser denominados trabalhadores e trabalhadoras da educação. É outra ética e outra estética de ser professora.
Para entender como as professoras são e se vêem hoje, é importante entender culturalmente e historicamente como e por quem estas foram sendo construídas, levando em conta elementos como gênero, raça, etnia e classe social.

Bjãooo a todos os blogueiros e simpatizantes!!!